quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Chega de pagar valores abusivos no Brasil

Valores praticados nas redes de lojas dos EUA


















Vou iniciar este blog fugindo um pouco dos temas triviais, onde vou abordar os motivos que nos levam a termos uma eterna falta de recursos no que se diz respeito a instrumentos e acessórios.


A verdade é que nos acostumamos a nos virarmos com qualquer instrumento e acessórios que conseguimos comprar no Brasil e até chegamos ao ponto de cultuarmos instrumentos low-end de marcas asiáticas como se fossem muito bons, mas o que muitos não sabem é pagamos valores absurdos em equipamentos que passam longe de suprir nossas necessidades musicais e esta realidade tem que mudar.


Primeiramente, o nosso pais esta no ranking de consumismo onde as empresas colocam o preço que bem entendem em tudo, pois venderão da mesma forma.


Não é diferente com o mercado de automóveis, que é senão o pior dos exemplos, onde pagamos valores desumanos em um automóvel básico, sem conforto, sem tecnologia e faltando até mesmo itens básicos, que são colocados como opcionais. Mas isso não vem ao caso aqui.


Porém, com instrumentos musicais isso não deixa de ser parecido, encontra-se uma enxorada de instrumentos de qualidade questionável por valores desproporcionais ao que realmente valem.


É perceptível que aqui no Brasil existe uma enorme quantidade de instrumentos de baixo nível voltados para músicos amadores iniciantes sendo vendidos a preços de instrumentos para profissionais e é isso é o que estraga tudo.


Equipamentos ruins atrapalham desde o desenvolvimento de um musico iniciante, indo até a fazer um musico intermediário a desistir da arte, pois é fator comum uma pessoa desistir de tocar um instrumento por não conseguir executar certas técnicas, mas esta pessoa nem sonha que a culpa é do próprio instrumento e não dela, ou então o timbre nunca esta de acordo com o timbre de musicas que se deseja alcançar e muitas vezes o problema também é somente do equipamento.


E outra, não é honesto vender instrumentos feitos de materiais reciclados, restos de estoque, ligas de madeira e sintéticos, madeiras verdes e de baixa qualidade, hardware precário, eletrônica amadora por PREÇO DE INSTRUMENTOS QUE DEVERIAM SER NO MINIMO INTERMEDIÁRIOS OU ATÉ PROFISSIONAIS.


O engraçado é que o valor que pagamos em um instrumento precário aqui no Brasil daria para comprar um profissional dos mais tops existentes nos Estados Unidos, como os instrumentos das marcas Fender USA, Conklin, Lakland, G&L, Alleva Coppolo, Sadowsky e muitos outros comercializados a partir de U$700.00, o que daria algo perto de R$1.260,00 com o dólar a R$1,80.


Só para terem ideia, instrumentos Squier, SX, Cort e outros instrumentos de baixa qualidade, nos EUA são vendidos partir de U$150.00, o que daria algo perto de R$270,00, novos e na caixa.


*Nem vou falar dos amplificadores porque deixará você mais revoltado ainda, pois um cabeçote e caixa Ampeg nos EUA é mais barato que o mesmo set da Meteoro aqui para gente no Brasil, por exemplo.


Com isso, uma serie de fatores impedem com que esse mercado musical se revolucione, uma vez que um grande esquema de distribuidoras existe, onde representantes brasileiras fazem o que bem entendem com os valores dos instrumentos musicais. Essas empresas, quando questionadas já mantem o mesmo discurso: "somente repassamos os impostos de importação, frete, impostos internos e o nosso lucro é minimo".


Só que vamos direto ao ponto então, o dólar atualmente esta variando as margens de R$1,80, o que faz com que um baixo MusicMan StingRay de 4 cordas de U$1.300 nos EUA custe quase R$10.000,00 no Brasil?


Não tem fundamento algum, por isso vou explicar:
Valor do baixo = U$1.300U$780,00 (impostos+frete) = U$2.080
Valor total em dólares = U$2.080 
U$2.080 X R$1,80(dólar) = R$3.744,00
R$3.744,00 + ICMS 12% = R$4.193,00 = Valor total com todos os impostos.
Não existe explicação, é somente o mesmo artificio utilizado pelas empresas automotivas, ou seja, eles colocam o preço que bem entendem para faturarem horrores em cima da gente.


Nem vou citar muitos exemplos senão não vou parar de escrever nunca, mas um Pedal MXR M80 (Direct box+Pré+Distorção) nos EUA custa U$130,00 e nas lojas no Brasil cerca de R$980,00, assim como um jogo de cordas D´Addario XL045 custa U$13,00 nos EUA e aqui no Brasil R$90,00.


A cerca de um ano atrás eu acompanhei a abertura da exportação para as lojas virtuais dos EUA diretamente para o Brasil, com frete e impostos calculados em reais (R$), onde um instrumento chegava no Brasil na casa de quem encomendou, com isenção de frete para alguns valores, restando apenas o imposto de importação.
Existiam varias ofertas, a que mais me chamou a atenção foi uma caixa 4x10 Ashdown por R$495,00 com R$250,00 de imposto(total de R$745,00 entregue no Brasil diretamente em casa com garantia de entrega).


Como exemplo, existia cabeçote Gallien Krueger MB200 por R$400,00 mais imposto de R$230,00 um total de R$630,00, entregue no Brasil e muitos outros equipamentos com valores bem menores.


Digo isso para itens maiores, agora para pedais de efeito, braço, corpo, captadores, pontes, tarrachas e cabos os valores eram incrivelmente baixos, já com todos os impostos e o frete para o Brasil.


O que aconteceu em apenas um mês de funcionamento das importações?
As distribuidoras de algumas marcas aqui do Brasil entraram com recursos para que marcas representadas aqui não pudessem ser importadas por brasileiros em lojas virtuais dos EUA.


O que eles alegaram?
Alegaram que aqui no Brasil eles tem que pagar impostos (blá blá), tem que ter uma empresa aberta no pais, o que gera encargos, tem que contratar funcionários, tem que manter estoque e um monte de coisas obvias que com certeza os lojas dos EUA tem tudo isso e muito mais e mesmo assim conseguem exportar produtos a preços totalmente aceitáveis.


Resultado, as lojas dos EUA cortaram (por ordens da justiça brasileira) quase todas as marcas renomadas para exportação, sobrando somente marcas desconhecidas por aqui.
Só que mesmo assim ainda ficaram varias marcas por aqui desconhecidas, porém de muita qualidade e bons preços, como Vox, Bugera, Hofner, Kramer e outras mais.


A partir disso as lojas dos EUA começaram a fazer promoções de frete grátis e incluir brasileiros em promoções de cupons que tinham até 70% de desconto.
Não faz nem 3 meses que eu estava cotando um braço de Jazz Bass em maple (bem difícil de se achar no Brasil), que custava R$211,00 na wwbw.com (loja muito boa por sinal) e estava vindo com frete de R$32,00 um total de R$243,00 (a ser entregue na minha casa)... Mas naquele momento eu estava sem dinheiro em função de mensalidade de faculdade, aluguel e contas mensais.


Passou um mês fui fazer a cotação on-line para comprar o tão sonhado braço de maple, quando no Checkout veio a surpresinha, deu o total deu R$439,80 ... cobrando R$196,60 de impostos (quase o valor do braço) e os R$32,00 de frete.


Ou seja, as importadoras do Brasil mais uma vez conseguiram "limar" qualquer chance de nós músicos brasileiros podermos ter um Setup decente a valores honestos.
OBS: Mesmo considerando o aumento das taxas, os valores praticados por lojas dos EUA, já com os tributos, sai por menos da metade (é isso mesmo, menos da metade) dos valores praticados nos mesmos equipamentos aqui Brasil, ainda mais pelo Ebay.


Tentando maquiar mais um pouco a situação, as distribuidoras alegaram que estavam enfrentando uma concorrência em desigualdade(tadinhas né) e que tinham que manter suas instalações aqui no Brasil, pagar aluguel, pagar tributos, pagar funcionários e coisas que qualquer empresa no Mundo faz. Porém nada disso justifica em momento algum o superfaturamento dos equipamentos. 



O que me intriga é que em momento algum as distribuidoras pensaram em diminuir o lucro para aquecer o mercado interno, ao invés disso, somente quiseram acabar com a importação e prejudicar nós músicos ainda mais.


Por outro lado, é obvio também que nos EUA as lojas são muito mais estruturadas, competentes, valorizam a música, querem vender somente o que é bom, são atenciosos e tem ótimos músicos trabalhando como vendedores, além de disponibilizarem inúmeras opções em instrumentos a valores justos e ainda dão a possibilidade de devolução caso o cliente não goste de algo que comprou. 


ISSO SE CHAMA COMPROMETIMENTO+PROFISSIONALISMO+HONESTIDADE, ai fica difícil de disputar mesmo né... kkkk



Por isso esta realidade tem que mudar, pois não tem condições sustentarmos um mercado tão indecente como este referente aos instrumentos musicais.


Importante para todos: Vide os valores reais de cada instrumento em sites estrangeiros como Ebay, GuitarCenter, wwbw, samash, etc... e ai sim terá ideia de como somos passados para trás.


Acredito que seja melhor as importadoras/distribuidoras pararem de almejar lucros abusivos ao invés de tentarem se justificar por superfaturarem tudo, o que seria muito mais louvável e honesto com todos os músicos do Brasil.


Lógicamente que o governo tem que dar algum respaldo também, mas como vimos, não é somente o governo a causa dos problemas.


Assim como as lojas, valeria muito mais estas venderem vários instrumentos a valores justos, do que superfaturarem os poucos instrumentos que vendem (perto do que poderiam vender, é claro).


OBS: NÓS MÚSICOS BRASILEIROS NÃO TEMOS INCENTIVO GOVERNAMENTAL ALGUM, TEMOS QUE TRABALHAR EM OUTRAS ÁREAS PARA NOS SUSTENTARMOS E AINDA POR CIMA NÃO TEMOS EQUIPAMENTOS A ALTURA DE QUALQUER AMERICANO OU EUROPEU, MAS O BRASIL FOI BERÇO DOS MÚSICOS MAIS CRIATIVOS DO MUNDO E ATÉ MESMO UNIVERSIDADES ESTRANGEIRAS DE MUSICA ESTUDAM A MUSICA BRASILEIRA NOS ÚLTIMOS ANOS, QUE É O CASO DO SAMBA E VERTENTES DA MPB. 
IMAGINEM SE TIVÉSSEMOS OS MESMOS RECURSOS QUE OS AMERICANOS E EUROPEUS TEM.


Claro que é o Samba de verdade, Bossa Nova e obras da MPB nos momentos iniciais logo após os festivais, umas até sendo fusão com Samba e muitas delas com linhas criadas e executadas por dois baixistas gênios que utilizei no banner do blog, Luizão Maia e Nico Assumpção, ambos com talento descomunal, habilidades extremas, técnicas precisas, musicalidades peculiares e pessoas com um nível cultural invejável.


FICA AQUI O RELATO DO GRANDE LUIZÃO PARA TODOS NÓS:



E A PERFORMANCE INCRÍVEL DO NICO JUNTO AO SAUDOSO JOÃO BOSCO:





No próximo tópico vou postar instruções de como comprar em lojas virtuais nos EUA.


Um abraço a todos e vamos lutar por nossos direitos, porque cultura e educação no Brasil são consideradas luxo e isso não pode acontecer de forma alguma, pois ambas são direitos básicos de todos nós.





Um comentário:

  1. Parabéns pelo blog Alex. Realmente essa postagem sobre a história do baixo elétrico, sobre as marcas e modelos que surgiram ao longo da história e que fazem parte do mercado é uma das mais sérias e completas que já vi. As demais postagens no blog também estão de parabéns.

    Sou baixista, professor de Contrabaixo e atualmente estou cursando a graduação em Educação Musical na UFSCar. Quero convidar você a conhecer meu blog também. Ele está em construção e pretendo abordar assuntos voltados a Educação Musical, ao Contrabaixo e à música em geral.

    http://fernandoapnogueira.blogspot.com.br

    Um grande abraço e até breve.

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